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Uma viagem cultural e comunitária

2024-03-12

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A Associação Cultural e Recreativa de Tondela - ACERT - emerge como uma força dinâmica e inovadora na cultura nacional. Desde a sua origem, em 1979, impulsionada pelo ardor criativo do grupo de teatro amador “Trigo Limpo”, a ACERT floresceu numa comunidade cultural vibrante e inclusiva.
 

 

Acert Pompeu José Winsig

Pompeu José, ator e membro da direção da ACERT

 

Pompeu José, ator e membro da direção, revela os alicerces da ACERT e a sua evolução ao longo dos anos. Com uma liderança forte e uma abordagem colaborativa, a ACERT não só se estabeleceu como uma entidade cultural independente, mas também se tornou um catalisador para o desenvolvimento artístico e comunitário na região de Tondela.

 

Qual foi o contexto sociopolítico que levou à fundação da Associação Cultural e Recreativa de Tondela (ACERT) em 1979?

A ACERT iniciou oficialmente a sua atividade em 1979, mas na realidade, tudo começou três anos antes com o “Trigo Limpo”, um grupo de teatro amador que nasce no seio de uma região ainda muito conservadora e que estava a acabar de sair de uma ditadura. Um grupo de jovens reuniu-se e criou o grupo de teatro amador, o “Trigo Limpo”, do qual fazia parte José Rui Martins, que é o atual presidente da ACERT. Como a atividade teatral não era suficientemente abrangente para os interesses da totalidade do grupo, criaram a Associação Cultural e Recreativa de Tondela - ACERT. O “Trigo Limpo”, continuou a ser o grupo de teatro que tinha a missão de levar a informação do que se passava no país dos pós 25 de abril às populações que viviam em zonas rurais e afastadas da realidade política do país. A receita da bilheteira era doada às Comissões de Melhoramento da localidade onde o teatro era realizado para que pudesse ser investido. Em memória desses tempos, ainda existe um fontanário com o nome “Trigo Limpo” que mantém viva a proximidade da ACERT com as comunidades locais.

 

A associação foi crescendo ao logo dos anos. Como é que essa evolução contribuiu para o desenvolvimento de eventos culturais?

A ACERT começou sem uma sede, os ensaios eram realizados em barracões e noutros locais que nos eram cedidos pela população para esse efeito. A estreia do primeiro espetáculo foi no ginásio da antiga escola, local onde está instalado o Novo Ciclo (era uma premonição de que teríamos de voltar!). Teve uma fase de progresso não só criativo, artístico e de ação cultural, mas também dos espaços. Foi adaptada uma adega de pequeno solar, em Tondela, onde se passava cinema, se fazia teatro e outras atividades culturais e recreativas; depois houve uma fase de adaptação de uma parte do antigo Hospital onde, num lado, funcionava a ACERT e, do outro, havia um Lar de Idosos. Entretanto foi alargada a possibilidade de receber público e de trabalhar com as pessoas e, fruto desta evolução, nasce o Tom de Festa, o festival de música do mundo que é baseado nos festejos de Santo António. Apesar de termos evoluído a diversos níveis, a missão da associação mantém-se: realizar atividades culturais e recreativas para apoiar e informar a população do que se passa no nosso país.

 

A ACERT tem uma entidade cultural independente. Como essa independência se reflete na sua relação com a comunidade local e nos eventos que promove?

A força da associação foi sempre a de transformar aquilo que já era tradição em algo maior, mais conhecido e contemporâneo, mas sempre com as pessoas. Exemplo disso é outro marco criativo da ACERT, também ligado à companhia de teatro “Trigo Limpo”, que é a "Queima e Rebentamento do Judas" e rebentamento do Judas. Fomos investigar do que se tratava e concluímos que era um acontecimento ancestral em que a população, depois da missa no Sábado de Aleluia, fazia o julgamento do Judas, no qual ele era acusado de todos os males que aconteceram no ano anterior, e depois era queimado com fogo de artifício. Entretanto, a companhia de teatro “Trigo Limpo” profissionaliza-se. É apoiada pelo Instituto das Artes, pertencente ao Ministério da Cultura e pela Câmara Municipal de Tondela, o que faz com que o evento da "Queima e Rebentamento do Judas" se transforme num espetáculo com música ao vivo e com a participação dos estudantes que estavam a gozar as férias da Páscoa.

 

A “Queima e Rebentamento do Judas” atinge uma dimensão muito particular. Até que ponto ajudou a espalhar o nome do “Trigo Limpo” e qual foi o impacto na ACERT?

Atualmente, "Queima e Rebentamento do Judas", é mais do que um espetáculo de teatro, é um evento que representa o crescimento das culturas, das pessoas e da expurga de todos os males. É, sem dúvida, o evento mais marcante e o que melhor reflete o trabalho desenvolvido pela ACERT. No ano passado participaram 350 pessoas e tivemos cerca de 5 mil pessoas a assistir a este evento. O trabalho da ACERT foi sempre realizado com o intuito de envolver a população nos eventos que vai realizando e este é um exemplo claro de que o conseguimos fazer. Quando a ACERT foi definitivamente para o antigo Ciclo Preparatório, propusemos ao Município de Tondela e ao Instituto das Artes que estas instalações fossem a sede da ACERT e o Centro de Recursos e Desenvolvimento Regional de Tondela. Ou seja, é um espaço gerido pela associação, independente, que faz parte da Rede de Teatros e Cineteatros Portugueses – RTCP.

 

Existem atividades para as diversas faixas etárias e valências pessoais?

Existem atividades para praticamente todas as idades e valências. Temos a companhia de teatro, o “Trigo Limpo”, que é composta por profissionais e temos mais duas companhias residentes no Novo Ciclo: o “(H)a Ver Teatro”, que é o Grupo de Teatro de Amadores da ACERT, composta por 20 pessoas. Como a ACERT teve origem num grupo de atores amadores, quisemos manter a nossa génese e a criação do “(H)a Ver Teatro” representa essa materialização. Outra companhia é o “Na Xina Lua” que é a simbiose perfeita entre a cultura e educação tondelense. O “Na Xina Lua” é a companhia de teatro amador dos alunos da Escola Secundária de Tondela – pertencente ao Agrupamento de Escolas Tomás Ribeiro – que, acompanhados por professores delegados pela escola, vêm preparar e ensaiar um espetáculo que é apresentado no final do ano letivo. Esta é mais uma forma da ACERT e das escolas proporcionarem o acesso à cultura e às artes performativas aos alunos que têm curiosidade e que querem usufruir da experiência e conhecimento de atores profissionais e amadores.

 

A ACERT realiza espetáculos dentro de portas, mas também leva os espetáculos para outras localidades. É outra forma de interagir com a comunidade?

Vamos para fora das nossas instalações com projetos que desenvolvemos com a autarquia, nomeadamente na circulação dos espetáculos pelas diversas freguesias e na criação de projetos em que trabalhamos com os idosos que são utentes das ERPIs (Estrutura Residencial para Idosos). As nossas criações viajam até várias paragens a nível nacional e internacional, por isso, criamos, através da programação e dos nossos espetáculos, vias de entrada para as pessoas de todas as idades e gostamos de cruzar os públicos para que estes possam interagir de forma natural. Ainda nesse sentido, fazemos criações internas de música, teatro e exposições e abrimos as portas às escolas e às instituições com bilhetes a preços especiais para que estes se possam cruzar e conviver. No evento da “Queima e Rebentamento do Judas”, como temos oficinas durante o dia e à noite, recebemos todas as pessoas que querem participar, sem limite de idade e sem requisitos mínimos para poderem participar. Já tivemos uma pessoa invisual a participar, o que interessa é ter vontade de vir e participar.

 

Qual é a reação e o envolvimento das pessoas em relação à vossa presença?

Fazemos espetáculos com alguma grandiosidade, alguns deles de rua, onde temos, por exemplo, bonecos de grande dimensão para anunciar a nossa chegada. Levamos o espetáculo pronto: temos os figurinos, os cenários, tudo e quando chegamos ao local onde vamos atuar, convidamos as pessoas para integrarem o elenco e ensaiarem connosco até ao dia da atuação. Esta dinâmica permite-nos aprender com a comunidade e vice-versa, qualquer pessoa pode juntar-se a nós e viver a dinâmica de uma companhia de teatro. É uma experiência sempre diferente para nós e única para a comunidade participante. Somos, em primeira instância, representantes desta comunidade. É aqui que bebemos parte da inspiração para criarmos os espetáculos.

 

Qual foi o evento mais longo que fizeram na ACERT?

Foi “A Viagem do Elefante”, de José Saramago, que durou três anos. Fizemos um total de 40 apresentações para 50 mil espectadores. É um exercício de humildade, nós não somos mais nem menos do que qualquer outra pessoa que está ao nosso lado. É muito gratificante e é relevante para não nos perdermos no caminho e de ter a porta aberta para todos. Não fazemos apenas espetáculos grandes, também fazemos pequenos e para o público infantil, como é o caso de uma atriz que está a ir aos infantários com o espetáculo “Queres que eu te Conte?” e representa na sala das crianças, no meio em que elas interagem diariamente.

 

A ACERT é uma associação aberta à comunidade?

Abrimos as portas para dignificar o que as pessoas fazem. Nesse sentido, criámos o projeto “Santos da Casa Fazem Milagres”, no qual convidamos os artistas locais para virem tocar no Bar do Café Teatro da ACERT ou atuar na sala de espetáculos. Também fazemos sugestões de encontros improváveis de jovens com pessoas mais experientes e os resultados têm sido muito interessantes. Queremos que saiam da zona de conforto e interajam com pessoas de outras áreas para que possam estimular a criatividade e depreender que não existem limites para a criação artística. A relação com as escolas também é muito estreita, não só com as escolas tradicionais, mas também com a Sociedade Filarmónica Tondelense.

 

A “Queima e Rebentamento do Judas” é, sem dúvida, o evento mais marcante e o que melhor reflete o trabalho desenvolvido pela ACERT.

Judas 2024 Acert

 
Como a ACERT promove a participação da comunidade local nos espetáculos e atividades culturais, acredita que esta abordagem contribui para a diversidade e o dinamismo das vossas produções?

É um facto que os estudantes de Tondela assistem, em média, a mais espetáculos do que outros alunos que vivem e frequentam escolas de grandes cidades. O nosso trabalho passa por levar a cultura e as artes performativas até às pessoas do município de Tondela e ainda conseguimos provar que é possível fazer carreira artística numa cidade do interior. A equipa é muito polivalente, uma pessoa pode estar a atuar, e no espetáculo seguinte pode estar a fazer programação ou a ensaiar a companhia. A polivalência dos nossos artistas faz com que estes se desafiem e encontrem outras formas de expressão. Trabalhamos com muitas pessoas que não fazem parte da equipa fixa da associação, mas que atuam nalguns espetáculos, ora com música, com exposições, com atuações, as opções são diversas.

 

Até que ponto a estrutura de liderança da ACERT se reflete na coesão dentro da associação?

A direção artística da ACERT é bicéfala – no sentido artístico - composta por mim e pelo José Rui. É mais difícil ter uma liderança a dois, mas se por um lado é mais desafiante, por outro é mais enriquecedor. Partilhamos as decisões com a equipa e com os sócios para que estejamos todos em sintonia quando ao progresso e caminho a seguir pela associação, por outro lado, queremos que mantenham a ligação e o entusiasmo que nos deram origem e nos regem. São dinâmicas desafiadoras, mas cá estamos para as levar avante.

 

Os apoios estatais atribuídos à ACERT garantem a vossa manutenção?

Neste momento podemos dizer que sim, apesar de termos de concorrer a cada quadriénio aos mesmos apoios, estes são suficientes para mantermos uma equipa fixa e para potenciar a realização de várias atividades artísticas, mas sabemos que é uma realidade que não se reflete na maioria das associações com o mesmo cariz da ACERT.

 
Acredita que ainda há caminho para percorrer?

Acredito que podemos evoluir no sentido de desburocratizar os processos para aceder aos apoios, tanto ao nível do tipo de documentos que temos de preencher, como no acesso às plataformas, estes deviam ser mais simplificados e intuitivos. Falta um investimento mais sustentado para os vários níveis da cultura se não for assim, não conseguimos cativar os talentos das diversas áreas artísticas que existem. A cultura faz parte do desenvolvimento humano e deveríamos ter todos os estágios; faz falta uma rede de apoio diversificada para apoiar estas etapas do desenvolvimento cultural (e humano).

 

Revele alguns dos planos da ACERT para o futuro próximo.

O nosso objetivo passa, em primeira instância, por nos mantermos no patamar onde nos encontramos e investir em determinadas atividades que acreditamos ainda não estarem bem complementadas, nomeadamente na área dos projetos. Recentemente candidatámo-nos a um projeto para trabalhar com jovens em parceria com a (CIM) Comunidade Intermunicipal Viseu Dão Lafões para, num período de três anos, realizarmos um trabalho de escola de cidadania nos 14 Municípios desta CIM. Esta interação culmina num espetáculo criado pelos alunos, desde a escrita dos guiões até à apresentação final em palco. É desafiante, mas a adesão tem sido muito positiva.

 

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Ana Lopes

Ana Miguel Lopes

Corporate journalist

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